sábado, junho 24, 2006

Vidocq (Vidocq, Pitof, 2001)

Tá, o cartaz é legal

Engraçado como o cinema pode ser veículo pra coisas imbecis. Como qualquer exemplar da geração que esteve nos anos oitenta, geração esta privilegiada em vários aspectos, na minha humilde opinião, eu obviamente admiro peças do cinema pipoca, ou de algo que fica entre ele e um cinema mais marginal, ainda que por sua liberdade ao criar ou no tratamento de determinados temas, a despeito do merchandising que veiculam ou da maneira como são vistos hoje. Os dois filmes da série Predador ainda me arrancam lágrimas, em especial o segundo, e eu não vou nem começar a falar de John Carpenter, Ridley Scott e outras coisas - e caras - que tornaram o cinema dos anos oitenta algo com um quê de referencial, ou merecedor de reverência, o que no fim das contas dá no mesmo.

Mas então, ocupei-me de assistir a um tal de Vidocq (Pitof, 2001), meio que recomendado por um outro blog - o Black Zombie -, que tem uns posts que carregam opiniões muito boas sobre algumas coisas em específico, o que querendo ou não, aproxima o gosto deste que vos fala do daquele que lá posta. Voltando à peça, totalmente rodada em formato digital, antes inclusive de Attack Of The Clones, o que não quer dizer nada em absoluto, exceto que a fotografia pode ser... digamos... manipulada de maneira... ousada, ou extrema, tem um visual bastante interessante, uma trama bem legal mas um resultado muito, muito aquém de qualquer expectativa. O que eu tenho pra dizer, e eu preciso muito dizer isso, é que assistir ao filme doeu-me o cérebro, tão ruim que era.

Numa Paris que beira o steampunk classudo que o Alan Moore criou pra Liga Extraordinária, em 1830, o detetive que dá nome ao filme depara-se com um estranho caso de mortes em circunstâncias pouco comuns que, no fim das contas, culmina em sua morte pelas mãos de um vilão que até respira como o Darth Vader. Um jornalista que vinha escrevendo uma biografia do defunto começa a acompanhar o desenvolvimento do caso, fazendo as vezes de detetive ele mesmo, em busca de esclarecimentos acerca do que haveria ocorrido e, segundo ele mesmo, vingança. Pois bem, o que há de errado mesmo, como eu disse antes, não é o plot. Não mesmo. Ele é bem legal, inclusive. Há coisas inteligentes, com um ar de Conan Doyle (tive dúvidas sobre Vidocq ser algo como uma corruptela de Sherlock, mas o Doggma, do Black Zombie, me disse que o detetive francês existiu mesmo). O visual também é muito bom. Nos créditos, o nome Marc Caro, co-diretor de Delicatessen aparece como responsável pelo character design, que é um dos (o?) pontos positivos do filme, tendo sido muito bem executado pela equipe de direção de arte.

Vader e Obi Wan? Não, não. O Alquimista e Vidocq

Qual o problema então? Bem, pra ser muito direto, o problema é a direção mesmo. Diretores que usam a câmera documentalmente, quando não se trata de documentários, é claro, me dão raiva. A construção da imagem do cinema não pode - e não deve - se submeter ao acaso. Bons diretores constróem as imagens de seus filmes de maneira que o que é captado pela câmera serve ao propósito de dizer alguma coisa, ou significar alguma coisa, ou exprimir um tipo de sensação. Kubrick, em O Iluminado, usou a câmera pra meter medo através de travelings pelo Hotel Overlook que ninguém conseguiu fazer igual, e o Tarkovsky, de acordo com sua teoria de que o cinema esculpe um tempo próprio, usa a câmera pra alterar essa experiência de realização do tempo com tomadas longas, travelings e outros artifícios que servem aos seus propósitos enquanto cineasta realizador. Mas tudo isso pra dizer não que o Pitof utiliza a câmera de forma nula. Muito pelo contrário. Ele interfere tanto no que a câmera captura e o espectador vê, que é agonizante.

As cores hiper-saturadas, que ao que parece são uma característica desse cinema francês que tem invadido o mundo ultimamente (vide O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e o próprio Delicatessen) chegam a incomodar, mas nem tanto. Elas servem a um propósito, eu diria. Talvez mais do que qualquer outra coisa sejam elas que dêem o tom de fantasia steampunk ao filme. Talvez, eu disse. Mas o uso de grandes angulares e uma câmera que nunca consegue ficar quieta incomodam tanto, mas tanto, que a experiência de assistir a esse filme foi quase traumática pra mim. A formação desse diretor, que é a de técnico em efeitos especiais, parece ser a culpada pelo sentimento que se tem de que o que assusta, ou o que intriga, é o que o olho não consegue ver, enquanto o desejável é justamente o contrário (não confundir ver com identificar). O próprio John Carpenter, ora citado, já tinha deixado isso muito claro no clássico dos clássicos O Enigma do Outro Mundo.

Essa necessidade de ação desembestada, filmada de um jeito que não se identifica o que acontece, é um tipo de olhar muito chato. O resultado final é um filme nauseabundo e atores como o Gerard Depardieu, que quando quer consegue despertar pro filme uma atenção ao elemento humano que pode ser muito útil, sub-utilizados e colocados em situação que eu imagino ser bem desconfortável pra eles (ou alguém já imaginou antes o Gerard Depardieu numa cena de luta com direito a voadoras e rolagens escada abaixo?).

Não gostei. Achei uma perda de tempo, um filme de muito mal gosto e uma aula do que não fazer pra se ter bons filmes. É uma iniciativa válida, é claro, pelo fato de ser um cinema que não é hollywoodiano, mas o problema é que ele poderia muito bem ser. E, ainda assim, as qualidades dele não passam disso. Se é pra ser um filme de ação que não seja enlatado, que seja um filme desses da safra de chineses voadores que seguiu O Tigre e o Dragão, esses sim visualmente interessantes mas com um algo mais que de fato vale a pena.

1 comentário:

  1. Aeeeee!!! =D
    Demorou, mas valeu a pena, seu Galiza. Agora volta pro computador e escreve mais (barulho de chicote estalando no ar)! Mais reviews, mais reviews!!!
    =***

    ResponderEliminar